Novos atores pedem uma nova direção...
Tenho conversado bastante com amigos sobre a figura e a função do diretor. Sinto que está ocorrendo uma mudança muito grande na maneira como o diretor é encarado. Viemos de um passado recente onde o diretor era colocado hierarquicamente acima dos atores, mas os atores hoje em dia estão emancipados e pedem uma relação mais horizontal com essa criatura.
Historicamente, o reinado dos grandes diretores, gênios criativos e muitas vezes autoritários, já acabou. O fato de o Gerald Thomas declarar em seu blog que não quer mais fazer teatro, de certa forma, é um sintoma dessa mudança. E o teatro, por ser uma arte tão artesanal, reflete com muita sensibilidade as mudanças comportamentais. Não à toa boa parte da produção teatral no Brasil hoje é feita a partir de coletivos de criação, onde muitas vezes a posição de diretor é ocupada por diferentes membros.
Estou atuando num espetáculo chamado “Geração Trianon”, que conta a história de uma companhia teatral dos anos 20. Nessa peça, coincidentemente, faço o papel do Ensaiador, uma espécie de ancestral do Diretor. Ele quase não tinha prestígio nenhum, era praticamente um técnico do teatro. É interessante notar como, ao longo desses quase cem anos, ele se transformou numa figura tão cheia de glamour! Primeiro com a vinda de encenadores europeus que fugiam da Segunda Guerra na Europa, como Ziembinski e Zampari, e importaram o padrão de qualidade europeu para os palcos brasileiros (ainda que às custas de uma elitização da platéia, vale ressaltar). Depois, com a primeira safra de diretores brasileiros de amplo reconhecimento, e que estão até hoje em atividade, como Zé Celso e Antunes Filho. E, por fim, com o surgimento de diretores como Gabriel Villela e Gerald Thomas, que propuseram novas experimentações estéticas nos palcos, e por isso foram alçados ao status de verdadeiras estrelas.
Mas hoje sinto que os atores estão mais proponentes e menos (meros) executantes de concepções alheias (ainda que essa execução pudesse ser feita com maestria).
O ator precisa estar muito mais conectado com o sentido que a obra tem para ele, ainda que esse sentido possa variar num amplo de espectro de possibilidades, indo da pura diversão às pretensões artísticas mais elevadas.
E o bom diretor desses novos tempos será justamente aquele que souber aproveitar ao máximo essa força criativa e produtiva dos atores, envolvendo-os da maneira mais completa possível, ao invés de tratá-los meramente como sujeitos que emprestam sua voz e corpo a um personagem, obedecendo ordens e cumprindo marcas (se é que algum dia isso foi verdadeiramente útil).
Publicado em Reflexões sobre o teatro
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
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